A alta dos preços dos combustíveis nas refinarias da Petrobras é inevitável em razão do atual patamar de câmbio e dos preços do petróleo, e chegou atrasada uma vez que os preços praticados pela petroleira estavam há semanas defasados em relação à paridade de importação, afirmam especialistas ouvidos pelo g1.
“[A Petrobras] fez o que já deveria ter feito há muito tempo atrás. É inevitável e estava atrasado já”. afirma o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo. “A Petrobras comercializa commodities e é uma empresa de capital misto, então precisa dar o melhor resultado para os seus acionistas. Não faz sentido ela ficar praticando preços artificiais”.
Petrobras anunciou nesta sexta-feira (17) novas altas nos preços da gasolina e do diesel — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Levantamento da associação mostra que o preço da gasolina estava nesta sexta-feira, antes do reajuste anunciado pela Petrobras, com uma defasagem de 13% em relação à paridade de importação, e o diesel, de 21%.
Desde 2016, a estatal passou a adotar para suas refinarias uma política de preços que se orienta pelas flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional e pelo câmbio. Neste ano, porém, a Petrobras passou a represar os reajustes, evitando repassar automaticamente as variações do mercado internacional e do câmbio
O consultor David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP, avalia que a Petrobras “demorou” para fazer o reajuste uma vez que estava praticando preços abaixo da referência internacional. “Nesse tempo, a empresa saiu perdendo dinheiro. Volatilidade é uma coisa de mais curto prazo e não de 99 dias”, afirmou.
O diesel não era reajustado nas refinarias da Petrobras desde 10 de maio – há 39 dias. Já a última alta no preço da gasolina havia sido em 11 de março – há 99 dias.
O economista e consultor em finanças Álvaro Bandeira lembra que a Petrobras também importa diesel para garantir o abastecimento do mercado interno e que vender por um preço menor do que se paga significa “prejuízo na certa”.
“É bom lembrar que pior do que pagar caro por derivados de combustíveis é não ter combustíveis, ter desabastecimento e não poder escoar a produção, principalmente a produção agrícola e as exportações”, disse Bandeira, em entrevista ao Jornal Hoje.

‘Pior que pagar caro é não ter combustível’, diz economista
O Brasil é deficitário em óleo diesel, tendo importado quase 30% da demanda em 2021.
Mesmo com o reajuste anunciado nesta sexta-feira pela Petrobras, permanecem as preocupações do mercado com a interferência do governo federal na política de preços da companhia em meio a mais uma troca de presidente da petroleira.
“O que o governo está sinalizando é muito ruim. Já avisou que vai mudar a diretoria toda, vai mudar o conselho, isso é uma intervenção”, diz Zylbersztajn. “O governo é acionista, mas a Petrobras não é um órgão de governo. Tem que ter clareza disso. É uma empresa que tem 800 mil acionistas, então não tem que trabalhar a favor do governo”.
Preocupado com a alta dos combustíveis em ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro tem pressionado a Petrobras a não repassar a alta internacional dos preços do petróleo para as bombas e tem criticado a elevada rentabilidade da empresa.
“A empresa mais importante do país vai ter a quarto mudança de presidente em menos de 4 anos, o que não acontece com outras empresas do mesmo porte da companhia no exterior, e vem sendo usada como palanque eleitoral”, destacou Bandeira.
O Palácio do Planalto passou a analisar “alternativas para forçar a saída” do presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, já na próxima semana – e, em seguida, trocar toda a diretoria da empresa, segundo informou o Blog do Valdo Cruz.

Valdo: aumento de preços dos combustíveis pode acelerar saída do presidente da Petrobras
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